A growing stream of
those whose voices,
from time to time,
storm like the rain. ⛆

Haia Dakwar

كي تكبر وردة في حيفا
أحيانًا عليك اقتلاعها من التربة
ومداعبة
ج ذ و ر ه ا؛ قليلًا
لنفض التراب
ثمّ وضعها في كأس من زجاج
أو بلاستيك
وغمره من تيّار حنفيّة
رويدًا
رويدًا
كي
لا
يفيض

كي تكبر وردةٌ في حيفا
أحيانًا عليك وضع جذعها المقصوص في الماء
والصلاة كلّ يوم
أن تنمو لها جذورٌ جديدةٌ
والتلصّص على أسفل جذعها
كلّ يوم
للتأكّد

كي تكبر وردتك في حيفا
عليك دائمًا
غسل الغبار عن أوراقها
كي لا تفوتها الشّمس
فالمَوت

في حيفا الكثير من الورود
لكن غالبيتها في عُلب
أو أصائِص
كلّ واحدة بمفردها

هل فكّرت مرّة
كيف نجمع “أصّيص”؟
ولا انا
في حيفا،
لا حاجةَ لجمعِهِ
كلّ أصّيصٍ بمفرده
وكلّ نوعٍ في أصّيص

ماذا يفعل البهائيّون
عندما تكتسح الجوّ موجة غبارٍ،
أو رطوبة شديدة،
أو عبابًا،
بكلّ البهاء؟
كيف يكبر الورد حينها؟

لكني بخير
فأنا الآن في القدس
أجلس
في مقهًى مليئًا
بالنباتات

Luiza Prado

A primeira casa de que me lembro foi a lua; de lá fui arrancada por uma grande tempestade que levou meu corpo, tão leve, como poeira pelo universo. Me espalhei, me multipliquei, me estendi em gotas sem fim; me vi nelas como reflexos, como ecos.

O peso da água me levou, caindo vertiginosamente até o abraço da terra. Com a chuva negra, desci até o Jardim das Hespérides, na meia-luz entre o dia e a noite; na sua terra macia me transformei, cresci, me dei ao mundo.

Conheci as vozes gentis de Héspera, Erítia e Atlântia, a infinita e expansiva luz de Helios; o toque aveludado de Nyx.

Vivian Hernández Ramírez

Liquid poems

Extraño que el sol me caliente el alma todos los días
Ahora el viento es quien acompaña

El movimiento.

Te cuento que mi piel sigue sin acostumbrarse a este frio.
Pero la lluvia es igual de caótica, llueve sin avisar,
llueve duro, llueve sutil

moja todo y moviliza de manera diferente.
Me recuerda a los días torrenciales en Bogotá que lo inundaban todo.

El agua sigue corriendo
Sigue moviéndose

Y yo estoy aquí mirando como existe en el afuera y en el adentro
que existe en el aquí y en allá

El agua en mi tierrita
Igual me llega al alma.

Icaro Lopez de mesa Moyano

Canción de la lluvia roja

Lluvia de miel
Lluvia de papel
Lluvia de Sangre
Enséñame a caer

Sin doler
Sin temer

Lluvia de Sangre
Enséñame a caer
Lluvia tropical
Lluvia tropical

Lluvia y candela
Ay!
como se cuela,
Ay!
Lluvia de fruta Ay!
Oye como suena

Lluvia de miel
Lluvia de papel
Lluvia de Sangre
Enséñame a caer

Sin doler
Sin temer
Lluvia de Sangre
Enséñame a caer

Enséñame a estar lejos
Lejos de tierra
Enséñame a ser hombre
Sin que me duela
Enséñame a estar
En la mitad
Enséñame a dar
Sinceridad

Lluvia de Sangre
Enséñame a caer

Lluvia tropical
Lluvia tropical

Lluvia y candela
Ay!
como se cuela,
Ay!
Lluvia de fruta
Ay!
Oye como suena

Lluvia de miel
Lluvia de papel
Lluvia de Sangre
Enséñame a caer

Enséñame a caer
Enséñame a caer
Enséñame a caer
Enséñame a caer

Lucas Odahara

A garganta da gárgula em Harvard

A biblioteca e eu pesados no chão. Pilares alcançam o teto a alguns metros de distância. Que bonitas suas fissuras! Com elas converso pelas minhas entranhas também moldadas pelas mãos de um homem. O sol doura as estantes de livros secos e leves. Ninguém os toca e assim estáticos me lembram de mim. Da minha rigidez, das minhas vontades sem alma que as ajude a descer para o mundo das coisas em movimento. Alma como as sentadas às mesas em frente às telas de retina a movimentar imagens. Eu sou a imagem. Minhas mãos de pedra param nas teclas sem entender a pressa do tempo. Pressa de prazeres curtos. A frieza do chão de mármore encosta na frieza das minhas patas de pedra como duas vértebras vizinhas. Meu corpo monolítico, pesado, esculpido para que seus contornos sejam vistos à distância, que um humano atento reconheça em mim o próximo grotesco, corpo-mundo-outro. Dos cantos do telhado da biblioteca eu via a pequenice dos andantes. A distância que me separa do solo, mais alta que a fachada do edifício, é vencida pela água da chuva que jorra da minha mandíbula que não fecha. Debaixo do céu aberto eu perco o propósito. É a chuva que faz meu corpo sentir sentido – a água que percorre o telhado e me encontra, me atravessa e esparrama certeira no pedaço de chão onde a minha boca aponta. Meu corpo desponta do edifício mas o edifício é também meu corpo e hoje eu estou dentro dele. Dentro desse corpo fechado que não vê o céu, ou a chuva chegando ou o vento secando a água na minha garganta exposta. Aqui dentro de mim eu me desocupo. Lembro de quando via as esculturas no parque lá de cima, seus corpos fechados, a chuva tentando molhar suas rigidezas. Esculpidas sem o grotesco, sem o ridículo, sem a garganta que não fecha, sem um buraco atravessado cheio de propósito, sem um serviço. Beleza desocupada, onde um olhar basta, um toque rápido guiado pelo desejo contido. Dentro do corpo-biblioteca, com a garganta seca que não fecha, eu viro pedaço de pedra desocupado sem a beleza da escultura. Uma gárgula de boca aberta sem ter o que falar já que foi feita para conversar com a chuva. Chuva que eu faço questão de cuspir para longe da fachada. Eu, analfabeta e feita de pedra à serviço de um corpo que não me reconhece. O sol pela janela aterrissou na minha corcunda. Suas poucas palavras como sempre me trouxeram conforto. Me lembraram do longo caminho que percorri até os salões do conhecimento, do percurso da fachada norte da biblioteca, da ignorância, da intempérie, dos relâmpagos que atingiram a gárgula da fachada Oeste, do meu chifre quebrado pelas pedras embriagadas dos universitários-meninos- perigo. O sol caindo em mim me lembrou dos nossos sonhos. Das coisas que podiam existir dentro do meu corpo-edifício, e enquanto ele entra pelas janelas de vidro envelhecendo as prateleiras de madeira, apoiado sobre os abajures dourados, sobre a internet de graça, sobre os tapetes persa, sobre os globos imperiais, sobre as pinturas dos homens brancos em traje militar, sobre a cópia da primeira bíblia impressa do mundo – a minha boca parece abrir ainda mais. Não de surpresa! Era sede da chuva, enquanto o universitário curioso enfiava seu punho em minha garganta à procura de um fim.

Juan Pablo Gaviria Bedoya

Una unidad en décimas

Sentí la deformación
como aquel nube primera
antes de que convirtiera
todo en precipitación.
El tiempo entró en colisión
sin estar bien preparado
y bajo el cielo nublado
pensé en él, como el futuro
que se marcha prematuro
siendo parte del pasado.

Será al revés, me pregunto
que la estructura se forma
y que hemos creído una norma
concebida en otro mundo.
Y si, a veces me confundo
cuando me hablan de estaciones
que para mi son ficciones
porque creo en las alturas
ya que las temperaturas
dependen de elevaciones.

Este cuerpo se desplaza
entre hendiduras geográficas
con ilusiones oceánicas
que desde lejos abraza.
Esa fuerza que traspasa
contemplando lo liviano
que aquí nunca hubo verano
todo cambia de repente
pues el trópico presente
moldea a lo cotidiano.

Proyectada al firmamento
mientras la montaña anduve
se deformaba una nube
igual que mi pensamiento.
Colmado de movimiento
el paisaje de aquel valle
perdiendo todo detalle
se dilata en lejanía
mientras yo ni idea tenía
que pronto la nube estalle.

Lo vi de lejos, el saman
y a la nube amenazante
Cumulonimbus flotante
que me atrajo como imán.
Desde ese cielo, el huracán
se presentaba con furia
avivando la penuria
que a los samanes no injiere
porque a lo que ellos refiere
son el árbol de la lluvia.

Tuve tiempo de pensar
bajo ese saman enorme
sobre un mundo multiforme
construyéndose al pasar.
La lluvia caía sin cesar
creando charcos como mares
cuantas formas singulares
que superficies reflejan
direcciones que asemejan
paradojas tropicales.

Esa visión hegemónica
de los centros hemisféricos
ve al trópico periférico
de forma decimonónica.
La posición anacrónica
se contrasta cuando invierte
un centro que de repente
a los bordes se desplaza
con paradojas reemplaza
la visión de un mundo inerte.

Movimientos azarosos
desordenan direcciones
detonando las acciones
de tantos cuerpos curiosos.
Esos ojos amorosos
con pupilas dilatadas
se repiten en miradas
que como la lluvia impactan
los sentidos que redactan
las décimas mencionadas.

Y con fuerza Francisca augura
el futuro será amazónico
o no será, dejando atónito
al oyente con su postura.
Polifonía de una ruptura
que en rebeldía horizontal
contrastando lo occidental
piensa en un centro periférico
que sincronizado y numérico
pronuncia así un gesto vital.

La luz del sol ilumina
luego que la lluvia cesa
cenital el sol se expresa
mientras mi vista alucina.
La sombra, que no se inclina
se fusiona en el presente
pues el sol toca tangente
y así una unidad concibe
permitiendo que derive
todo un cambio incandescente.

Raphael Koranda

imagine: the sky spreading above a thin layer of glass.
almost cuts a heavy cloud in half. on the
soil a figure looks up to their reflection. up there:
drops fall, burst in their collision. smear
of descent, evaporated trajectory.
for a moment, the thought what it would feel like
if the glass was their own forehead. splash.
this is the motion of dry death, ubiquitous on this level.
a pull downwards, the desire to reach into above.
imagine the glass breaking. feet feel porous.
soil soaked, loosened by agitation, sinking weight.
the figure’s skin absorbing every drop. dissolving
levels and the figure is all of them: mud, flesh,
puddle. before the shattering drops
sharpness on skin, now the remaining
sting of shards hollow. all carried away. can be.
in this motion where all is shaken,
all will descend, rage, and
ascend -

SóLaura

Deitada na pista da direita da avenida paulista, estirada no chão, em meio a muitos outros corpos, eu olhava para o céu esperando a polícia chegar. Meus olhos lacrimejando pelo poder daquele protesto, a chuva que caindo, se misturando com minhas lágrimas e lavando a alma daquela colega ciclista que perdemos algumas horas antes atropelada por um ônibus. Lembro da chuva caindo no meu rosto e eu pensando "será que é assim que eu vou também?". Me coloquei no lugar dela e de todes aqueles outres que tiveram sua alma levada pela chuva paulistana. Essa chuva ácida, suco de poluição, fuligem líquida dos topos dos prédios, esse creme cinza derretendo pelas paredes, correndo pelo chão, sujando os pés da trabalhadora que calça as havaianas já sujos de rotina, e caindo dentro do esgoto, na galeria de cocô embaixo do meu corpo. Olho fixamente para o céu-sombra, com dificuldade em meio às gotas de chuva que furam minha íris como estacas de sentimento, para os prédios infinitos vistos de um ângulo onde eu nunca estive antes. Afinal, nasci ser humano e não rato. Ratos que se banham com essa mesma água que lava a alma da imigrante quando volta pra São Paulo e que destrói lares na zona leste, de onde eu vim. Quantas pessoas que já conheci perderam coisas na chuva... e fizeram amor na chuva. E morreram na chuva. E amaram a chuva. Os relâmpagos vistos da janela do apartamento do décimo oitavo andar, o vento comandado por Ela, destruindo preconceitos e renovando o ar, a alma. O medo do galho da árvore cair no carro do meu pai, varar o parabrisa e entrar direto no coração dele (sempre tive esse medo, até ele morrer. Não de chuva, mas de bebida, que ironicamente também é líquida). Aquele domingo em que a chuva trouxe um vendaval também me assustou. Minha mãe me jogou pra debaixo da cama e rezamos, paralisadas, enquanto o vento destruía tudo lá fora. E depois veio a chuva, novamente para lavar o chão onde construiríamos novamente nossas estruturas. Uma das fotos minhas que eu mais gosto é depois de uma chuva. Meus cabelos curtos molhados e eu sorrindo entre dois dos meus amores de vida.

São tantas histórias com a chuva...

Atrasos pro trabalho, porque não conseguia cruzar a calçada pra pegar o ônibus porque a água criava piscinas; minha mãe com água acima do tornozelo me buscando na escola, de chinelo, e a água entrando pela porta do fusca; eu dirigindo na enchente lembrando que me falaram: "na enxente, sempre vai de primeira. Nao engata a segunda se nao afoga o motor"; eu e minhes amigues pedalando fixas sem freio na chuva e não entendendo que aquele poderia ser o nosso último dia; sentar na janela do quarto no décimo oitavo andar, chorar pelo passado e sentir a chuva lavando meu coração (e o vento anunciando o futuro); carona para todas as amigas bem vestidas pra não se molharem no ponto de ônibus; infinitas horas de trânsito no carro no ônibus na fila pra entrar no metrô; camelôs vendendo guarda-chuva; é melhor sair de chinelo ou de tênis?; levar uma troca de roupa; caralho! Meu livro preferido molhou! Tudo bem, é charme, segundo Benjamin "é aura"; a chuva estragando a chapinha dela; esperar no café até dar pra seguir o caminho e conhecer um dos amores da sua vida; ser criança de periferia e fingir que a poça é piscina; se sentir aliviada porque secretamente o céu está te mandando aqueles relâmpagos pra te mostrar que ele entende tua raiva; "amiga, não vou conseguir chegar, tá tudo alagado!"; saber que você vai se molhar inteira, mas mesmo assim ir (e chegar e se divertir e se secar com o bafo do boteco); entrar no busão com o guarda-chuva molhado, molhar todo mundo em volta e ninguém reclamar porque todo mundo já passou por isso (ou vai passar); chorar e ninguém perceber, porque ironicamente, com a chuva, todo mundo chora mesmo sem querer.

أمهات "داربلارج" مراكش

تاغنجا يا م الرجا
يا ربي جيب الشتا
تاغنجا يا صاحبة الرجاء
يا ربي إت بالمطر
تاغنجا حلات راسها
يا ربي بل خراصها
تاغنجا كشفت عن رأسها
يا ربي بلل أقراطها
السبولة عطشانة
رويها يا مولانا
السنبلة عطشانة
ارويها يا مولانا
الفول عطشان
ارويه يا مولانا

Lívia Lanzellotti Nishibe

30 de Novembro de 2021

Hoje choveu e eu achei lindo. Pela primeira vez, em muito tempo. Desde o meu período na Alemanha, eu odeio muito tempo fechado. Só valorizo dia de sol. Tiro foto, inclusive. Da chuva, nunca. A penumbra, a roupa do varal que nunca seca, a meia que molhou porque você pisou na poça. Como que gosta disso?

Mas hoje eu achei lindo e até falei em voz alta, sozinha: “que lindo!”. Que tonta. Ou talvez só muito influenciada por uns videos budistas que eu vi, que falavam que não dá pra viver só de momento bom, só do que a gente gosta. Não dá pra congelar as boas experiências - não há controle sobre o fato de elas serem passageiras. A vida ta aí e os infortúnios também vão acontecer. Condicionar a felicidade aos impermanentes momentos de glória nos aprisionam em constante insatisfação. Não tem escapatória, se não estar aberta para o que der e vier. Surfar nessas ondas. Que lindo! Talvez agora eu consiga aceitar as coisas que eu não gosto. E finalmente apreciar a chuva.